126 anos de Campo Grande: a cidade que inspira a arte de Cleir

126 anos de Campo Grande: a cidade que inspira a arte de Cleir

126 anos de Campo Grande: a cidade que inspira a arte de Cleir

Campo-grandense, artista exalta seu amor pela cidade através de suas obras que valorizam a fauna e a cultura regional

Campo Grande chega aos 126 anos nesta terça-feira (26) com a marca de ser uma das capitais mais arborizadas do mundo, um mosaico de culturas e tradições que se refletem em sua identidade singular. Para além da arquitetura e da hospitalidade, a capital sul-mato-grossense se revela também através da arte. E entre os artistas que transformaram a cidade em tela está Cleir, um dos maiores nomes das artes plásticas de Mato Grosso do Sul.

Com mais de 35 anos de trajetória, Cleir é campo-grandense e carrega em sua obra o desejo de valorizar o Cerrado, a fauna regional e os ícones que traduzem o modo de vida local. Seu trabalho pode ser visto em diversos pontos de Campo Grande, transformando a cidade em uma verdadeira galeria a céu aberto.

O amor de Cleir pela Capital se materializa em obras que já fazem parte do imaginário coletivo dos moradores e visitantes. A começar pelo Monumento das Araras, inaugurado em 1996, na Praça da União, no bairro Amambaí. Um dos principais cartões-postais da Capital tem 10 metros de altura e acabou se tornando referência, tanto que o espaço é conhecido como ‘Praça das Araras’.

A última revitalização ocorreu em 2020, durante a ação solidária ‘Do mesmo sangue’, promovida pelo Hemosul e Prefeitura Municipal’. A obra traz três araras, sendo uma vermelha e duas azuis. Recentemente, a arara-azul se tornou a ave símbolo de Mato Grosso do Sul. “Um dos grandes orgulhos da minha caminhada é essa obra, que foi um desafio e hoje é referência. Sempre defendi a arara-azul como símbolo do nosso Estado e agora em julho, isso se efetivou. Lá atrás, há quase 30 anos, fiz essa homenagem neste monumento”, destaca Cleir.

Outro marco é o Monumento do Sobá, de 2009. Com 4,5 metros, homenageia a iguaria japonesa que se tornou símbolo da miscigenação cultural campo-grandense. Localizado na Feira Central, o monumento se tornou um ponto de encontro, celebrando não só a gastronomia, mas também o papel das colônias na formação da cidade.

Tem ainda a Deusa da Justiça – Themis, localizada no Fórum da Capital. A obra é de 2002 e tem 4,6 metros.Em grandes proporções, as empenas, também conhecidas como murais, marcam a paisagem urbana. O Papagaio Verdadeiro e a Arara Vermelha, no edifício 26 de Agosto, estampam cores vivas a 40 metros de altura em pleno coração da cidade, reforçando a presença do Cerrado na vida urbana.

As obras datadas do ano 2000, foram revitalizadas em 2019. Já no edifício do Hotel Exceler, a Arara Azul, obra mais antiga de Cleir ainda exposta na cidade, se destaca como ícone de preservação, lembrando a importância da espécie para o equilíbrio ambiental. Com 30 metros de altura, a arara foi criada em 1995 e em 2017 passou por restauração.

Animal querido e presente no cotidiano campo-grandense, a capivara também foi tema de trabalho e homenagem de Cleir. Em 2017, em comemoração aos 118 anos de Campo Grande, a Águas Guariroba idealizou o projeto ‘Capivara Urbana’, com a criação de cinco esculturas de 90 cm X 1,85 X 60 cm do animal silvestre. Cleir assinou a criação e a pintura de uma das esculturas, que ficaram expostas em pontos turísticos da cidade e depois, foram leiloadas e tiveram o valor arrecadado revertido para causas sociais.

Guardados na memória do artista e de muitas pessoas, há ainda os painéis da Onça-Pintada, inaugurada em 1994 e apagada em 2015 e dos Tuiuiús, pintados em 1995 e apagados em 2013. Ambos embelezavam a região central de Campo Grande.A arte vive – Mais recentemente, Cleir assinou a restauração do Monumento Pantanal Sul, carinhosamente conhecido como os ‘Tuiuiús do Aeroporto’ Internacional de Campo Grande.

Após uma rajada de vento, uma das aves caiu e, por meio de parceria entre Sicredi e Aena, a obra foi restaurada e entregue a Campo Grande no último dia 19, como um presente de aniversário à Capital Morena, devolvendo imponência à obra que recebe diariamente turistas e moradores. Para muitos, é o primeiro contato com o símbolo do Pantanal, o tuiuiú, que, pelas mãos de Cleir, se tornou ainda mais representativo.

Asa Branca, Zé Bicudo e Majestoso ‘nasceram’ no ano 2000, mas só foram batizados com os nomes em 2018, após a revitalização e a realização de um concurso cultural. “Essa obra tem grande significado, pois, é as boas-vindas a quem chega à cidade, ou o caloroso até breve a quem se despede e exalta nossa ave símbolo do Pantanal. Essa entrega da revitalização me honra e agradeço o olhar do Sicredi e Aena para a valorização da nossa arte”, relata o autor.

O artista e sua cidade – Mais do que embelezar, as criações de Cleir têm o poder de despertar pertencimento. Em cada escultura ou mural, há a preocupação de traduzir o orgulho de ser campo-grandense. “Minha arte é uma declaração de amor a Campo Grande. Quero que as pessoas, ao olharem essas obras, sintam o mesmo carinho e respeito que tenho pela cidade e pelo Cerrado”, afirma o artista.

Para além das obras visíveis, Cleir também atua como guardião da memória cultural, incentivando novos artistas e participando ativamente da cena artística local. Sua trajetória reflete a transformação de Campo Grande, que, ao longo de mais de um século, cresceu e se modernizou, mas sem perder a essência de cidade acolhedora e conectada à natureza.

Uma galeria viva para os 126 anos – Ao completar 126 anos, Campo Grande celebra não apenas sua história, mas também os talentos que a projetam e a embelezam. A obra de Cleir, espalhada pela cidade, simboliza esse encontro entre arte, cultura e identidade regional.

Para os campo-grandenses, cada monumento, cada empena colorida e cada escultura é um lembrete de que a Capital não é feita apenas de concreto, mas também de afeto, memória e pertencimento. E poucos artistas conseguiram traduzir esse sentimento com tanta intensidade quanto Cleir.

“Campo Grande é minha casa, meu ateliê e minha maior inspiração. É para ela que dedico minha arte”, resume o artista, que segue pintando, esculpindo e restaurando a cidade, como quem escreve, em cores e formas, a própria história da Capital Morena.

Sobre o artista – O campo-grandense Cleir é um artista plástico autodidata com mais de 35 anos de carreira. Seu trabalho tem forte conexão com a fauna e flora do Cerrado, suas grandes inspirações.

Possui obras em Campo Grande, Dourados, Corumbá, Bonito, Ladário, Terenos, Três Lagoas, Ponta Porã, Rio Verde, Bataguassu e Aquidauana.

Também deixou sua marca em Arapongas, município do Paraná que registra o maior acervo de obras do artista, com 13 esculturas de pássaros nativos.