A estratégia da família Ermírio de Moraes, da Votorantim, para perpetuar seu império de R$ 50 bilhões

Aposta em novos setores cresceu nos últimos anos e tem ajudado a companhia a diminuir dependência industrial

Por Letícia Toledo

14 maio. 2025 – 19h21 – 3 min

Nos últimos anos, a família Ermírio de Moraes desenhou uma estratégia ousada para o seu conglomerado Votorantim: desatrelar o faturamento do segmento industrial — que durante quase um século garantiu o seu constante crescimento. Hoje, essa estratégia se mostra bem-sucedida.

Em 2024, a Votorantim teve um faturamento de R$ 51,8 bilhões, crescimento de 7% em relação a 2023, e um lucro operacional (Ebitda) de R$ 11,9 bilhões, alta de 23% no mesmo comparativo.

Para chegar a esses números, nos últimos anos a holding — que hoje tem um portfólio com 12 empresas — cresceu sua participação em segmentos como infraestrutura, energias renováveis e saúde.

Em 2024, o grupo aumentou sua participação na farmacêutica Hypera para 11%, reforçou sua presença no setor de energia com a consolidação da Auren — que se tornou a terceira maior geradora do país após a compra da AES Brasil — e ampliou apostas em novos negócios por meio da gestora 23S, na qual ela divide o controle com o fundo soberano de Cingapura, o Temasek.

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Esse movimento é liderado por João Schmidt, CEO da holding desde 2020, e que fez sua carreira no mercado financeiro.

A Votorantim segue sendo uma holding 100% controlada pela família Ermírio de Moraes — que em sua quarta e quinta geração soma hoje mais de 170 herdeiros.

Para manter a perenidade dos negócios e o alinhamento entre as gerações, a empresa construiu uma estrutura robusta de governança, que separa claramente a gestão executiva do controle familiar.

A gestão

A organização atual da família Ermírio de Moraes nos negócios começou a se desenhar em 2001, quando Antônio Ermírio de Moraes, da terceira geração, deixou a presidência do grupo.

Na ocasião, a quarta geração da família — 23 herdeiros — foi retirada das operações do dia a dia e passou a atuar em conselhos e comitês estratégicos.

Atualmente, o conselho de administração da Votorantim tem sete membros, sendo três da família e quatro independentes.

No topo da hierarquia está a Hejoassu, holding que reúne os herdeiros em um conselho de 12 membros, responsável por definir diretrizes de risco e retorno para os investimentos do grupo.

Cada empresa do portfólio da Votorantim — que inclui nomes como Nexa (mineração), CBA (alumínio) e Banco BV — possui seu próprio conselho de administração e diretoria executiva com autonomia, embora decisões estratégicas passem por múltiplas instâncias, incluindo a Hejoassu.

Essa governança profissionalizada é acompanhada por uma cultura de educação familiar.

O Conselho de Família atua na preparação dos herdeiros desde a infância, com visitas à sede da empresa e atividades educativas, até a fase adulta, com mentorias, cursos e experiências internacionais.

Atualmente, 14 membros da quinta geração participam de conselhos e comitês das empresas do grupo.

Mais de 100 anos depois da fundação da primeira fábrica têxtil da família, a Votorantim mostra que é possível adaptar uma empresa centenária aos desafios contemporâneos.

Com foco no longo prazo, profissionalização e diversificação, o grupo busca não apenas manter o patrimônio da família Ermírio de Moraes, mas ampliá-lo — e garantir sua relevância no cenário empresarial brasileiro e global por muitas gerações.

O InvestNews procurou a Votorantim, mas a empresa não concedeu entrevista.

InvestNews