Dia do Cerrado: os serviços ecossistêmicos e seus benefícios para a sociedade e a economia

Fabiana Aquino
Pesquisadora da Embrapa Cerrados

No dia 11 de setembro celebramos o Dia do Cerrado, bioma que ocupa quase um quarto do território brasileiro.

Neste ano, a data ganha ainda mais significado por conta dos 50 anos da Embrapa Cerrados, instituição que tem desempenhado papel decisivo na geração de conhecimento científico e tecnológico voltado para o uso sustentável desse patrimônio natural.

O Cerrado é um bioma estratégico para o Brasil e o mundo, tanto por suas funções ecológicas, com destaque para a biodiversidade e os recursos hídricos, quanto pelo papel que desempenha na produção agropecuária.

Por conta dessa condição dupla, de patrimônio natural e de base produtiva, torna-se inadiável desenvolvermos estratégias em torno do uso do solo e da sustentabilidade.

Este é, portanto, um momento oportuno para refletirmos sobre a importância de compreender e valorizar os serviços ecossistêmicos, fundamentais tanto para a conservação ambiental quanto para a produção agrícola e o bem-estar humano.

Quando pensamos em ecossistemas, vêm à mente florestas, savanas, campos, rios e áreas produtivas. Por trás dessas paisagens, existe uma complexa rede de processos ecológicos que garante condições essenciais para a vida.

No caso da vida humana, esses processos se manifestam em benefícios diretos e indiretos, conhecidos como serviços ecossistêmicos, indispensáveis ao bem-estar social e à sustentação da economia.

Esses serviços estão presentes no nosso cotidiano, desde a água disponível nos córregos até o solo fértil que sustenta a agricultura, passando pela interação dos seres vivos que mantém os ecossistemas em equilíbrio.

A ciência classifica os serviços ecossistêmicos em quatro categorias:

  • 1) provisão: oferta de bens como alimentos, fibras, água e matérias-primas;
  • 2) regulação: equilíbrio climático, controle de enchentes, polinização e purificação da água;
  • 3) suporte: processos básicos como ciclagem de nutrientes, formação de solos e fotossíntese;
  • 4) culturais: lazer, turismo, identidade cultural e bem-estar físico e mental.
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A relevância desses serviços fica ainda mais clara quando percebemos sua ausência. Sem polinizadores, a produção de frutas e hortaliças é severamente comprometida.

Sem vegetação para regular o ciclo hidrológico, aumenta a vulnerabilidade tanto à escassez hídrica em períodos de seca quanto às enchentes em épocas chuvosas.

Sem solos férteis, a produtividade agrícola diminui, afetando diretamente a segurança alimentar.

Uma questão central é como mensurar esses serviços. Muitos não possuem preço de mercado, mas têm alto valor econômico.

A pesquisa científica utiliza métricas variadas, como toneladas de carbono sequestrado por hectare, volume de água infiltrado em áreas de recarga, diversidade de espécies associadas a determinados ambientes ou ganhos de produtividade agrícola decorrentes da polinização natural.

Os impactos dos serviços ecossistêmicos são profundos e afetam diretamente a vida cotidiana.

O abastecimento de água de grandes cidades depende da conservação da vegetação nativa, que favorece a infiltração e reduz a erosão.

A estabilidade climática local é influenciada pela cobertura vegetal, que atenua extremos de temperatura. Já a agricultura em larga escala depende do equilíbrio ecológico, que regula pragas e mantém a fertilidade do solo.

Esse debate, porém, não é apenas ecológico: envolve também dimensões sociais e econômicas.

A manutenção dos serviços ecossistêmicos resulta de escolhas coletivas, desde a forma como produzimos alimentos, ocupamos o solo e consumimos recursos até as políticas públicas e estratégias empresariais que orientam essas práticas.

Nesse contexto, o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) surge como alternativa para reconhecer e remunerar produtores e comunidades que preservam nascentes, restauram áreas degradadas, mantêm vegetação nativa e utilizam práticas conservacionistas do solo.

Os serviços ambientais correspondem, portanto, às práticas humanas destinadas à manutenção, recuperação ou aprimoramento dos processos naturais.

Embora promissor, o PSA não é solução única: em muitos casos, os valores pagos ainda são insuficientes para gerar mudanças estruturais ou competir com atividades mais rentáveis que degradam o meio ambiente.

Por isso, torna-se necessário avançar em novos modelos de negócios que integrem a lógica de mercado à conservação, garantindo que os benefícios da adoção de práticas sustentáveis retornem efetivamente ao produtor.

A valoração econômica dos serviços ecossistêmicos também gera controvérsias.

Para alguns, atribuir valor monetário é estratégico para evidenciar sua importância e subsidiar políticas públicas.

Para outros, há o risco de reduzir funções ecológicas essenciais a simples cifras de mercado.

Apesar das divergências, existe consenso quanto à urgência de reconhecer, mensurar e valorizar esses serviços, sobretudo em um país que abriga biomas de grande diversidade e cuja economia depende fortemente da agricultura.

Estratégias que articulem conservação e desenvolvimento são essenciais para garantir a resiliência de sistemas naturais, produtivos e urbanos, assegurando benefícios coletivos de longo prazo.

Nesse sentido, a adoção de boas práticas agrícolas, como plantio direto, integração, rotação ou sucessão de culturas, diversificação de forrageiras, uso adequado de maquinário e manutenção das Áreas de Preservação Permanente e da Reserva Legal, contribui decisivamente para a conservação dos recursos naturais.

Essas práticas mantêm a fertilidade do solo, favorecem o acúmulo de carbono orgânico, estimulam a atividade biológica, reduzem perdas de solo e água e garantem cobertura permanente contra impactos erosivos.

Pesquisas pioneiras da Embrapa já demonstraram que a presença de vegetação cobrindo o solo reduz as perdas de solo e água em mais de 50% em comparação ao solo descoberto, evidência clara da relevância da cobertura vegetal para o controle da erosão.

Assim, a conservação do solo e da água pode ser entendida como resultado direto da interação entre práticas agrícolas responsáveis e processos ecológicos.

À época, tais benefícios ainda não eram tratados como serviços ecossistêmicos.

Hoje, essa abordagem permite integrar a contribuição conjunta dos sistemas naturais e das atividades humanas, avaliando de forma mais ampla os ganhos e perdas associados a diferentes formas de uso da terra.

Esse entendimento é fundamental para orientar políticas de ordenamento territorial, aprimorar a gestão dos recursos naturais e assegurar a sustentabilidade da produção agropecuária em longo prazo.

Embrapa Cerrados

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