Opinião: Crédito para startups: impulsionando a economia do Brasil

Por Ricardo Abdo, CEO da FictorPay

Segundo o Startups Report Brasil, elaborado pelo Sebrae, até maio deste ano o país contava com 18.056 startups em operação. Entre os estados, São Paulo liderava com 1.911 empresas, seguido por Florianópolis, que ocupava a segunda posição com 780 startups, e pelo Rio de Janeiro, com 581, completando o ranking das principais cidades empreendedoras. Apesar do crescimento acelerado, muitas dessas empresas ainda esbarram em um obstáculo que limita o seu potencial, qual seja, o acesso ao crédito. E isso levanta uma questão fundamental: como esperar que novas empresas nasçam, se desenvolvam e inovem se o sistema financeiro não acompanha o ritmo de suas ideias?

De acordo com o Sebrae, apesar de representarem diferenciais importantes em inovação e tecnologia, mais da metade das startups em operação ainda não fatura, e 80% delas têm equipes com até três pessoas. Em uma visão macro, são negócios que ainda não possuem histórico de receita ou garantias reais, ou seja, exatamente o tipo de empresa que os critérios tradicionais de análise de crédito classificam como “alto risco”.

O modelo vigente foi pensado para empresas com estabilidade financeira, garantias físicas e histórico consolidado, atributos que startups em fase inicial simplesmente não têm. Consequentemente, o crédito acaba sendo direcionado quase exclusivamente para quem já prosperou, fechando a porta para quem ainda está começando.

O paradoxo é evidente: se por um lado emprestar para empresas sem receita é arriscado, por outro negar crédito é abrir mão de novas ideias, modelos de negócios inovadores e oportunidades de gerar empregos. O empreendedor iniciante, muitas vezes sem capital próprio, se vê diante do dilema de tentar viabilizar sua operação via banco, que geralmente recusa o risco, ou recorrer a empréstimos pessoais com juros elevados, misturando finanças pessoais e empresariais. Esse ciclo explica por que tantas startups encerram as suas atividades antes de consolidar resultados e por que o Brasil ainda perde oportunidades de inovação que poderiam impactar positivamente a economia e a sociedade como um todo.

O fato é: existem caminhos para mudar essa realidade. Uma alternativa é acelerar a oferta de linhas de crédito públicas ou privadas adaptadas à realidade de startups em estágio inicial, considerando fatores além do histórico contábil, como o potencial de mercado, a qualificação da equipe, a eficiência das projeções e a força da oferta de produtos ou serviços. Fundos de garantia podem reduzir o risco para bancos e permitir que o crédito seja avaliado com base no que é mensurável, e não apenas naquilo que falta.

Além disso, melhorar a infraestrutura do sistema financeiro é fundamental. Experiências internacionais mostram que modelos integrados de análise de crédito, como scorecards unificados acessados por diferentes instituições, facilitam a avaliação do perfil do tomador. No Brasil, o Open Banking já representa um passo nessa direção, mas ainda depende da autorização individual do cliente. Avançar nesse sentido permitiria análises mais rápidas, justas e menos burocráticas, reduzindo o custo e a percepção de risco do crédito. Paralelamente, medidas regulatórias que simplifiquem a tomada de garantias, acelerem processos judiciais e punam fraudes ou má gestão ajudariam a criar um ambiente financeiro mais seguro e confiável para investidores e empreendedores.

Outro ponto essencial é fortalecer o ecossistema de apoio às startups. Crédito sozinho não garante sucesso. Mentorias, capacitação e acesso a investidores são complementos decisivos para aumentar a resiliência e a capacidade de crescimento das empresas. A longo prazo, o incentivo à educação financeira e empreendedora é igualmente estratégico, pois gestores que aprendem a pensar como donos desde cedo se tornam mais preparados para administrar recursos, tomar decisões inteligentes e conquistar a confiança de quem financia. Fora que, startups bem estruturadas têm potencial de gerar impactos sociais e ambientais positivos, criando soluções inovadoras que beneficiam toda a sociedade.

O desafio é grande, mas a oportunidade é ainda maior. Criar condições para que o crédito seja um motor de crescimento e não uma barreira, é essencial para que as startups brasileiras alcancem o seu verdadeiro potencial. Se conseguirmos fazer isso, estaremos não apenas impulsionando a economia, mas também fomentando a inovação, geração de empregos qualificados e um Brasil – ainda – mais competitivo no cenário global.

Sobre o Grupo Fictor 

O Grupo Fictor é uma holding de participação e investimentos especializada na gestão de empresas no mercado de private equity. Há 15 anos, vem atuando nos mais diversos setores e, atualmente, possui três divisões de atuação: alimentos; serviços financeiros; desenvolvimento imobiliário e energia. Com sede na região da Berrini, em São Paulo, a holding tem aplicado estratégias e políticas ESG no cerne de sua atuação e busca ser referência no mercado de private equity aliada às melhores práticas de sustentabilidade e governança. 

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