
Durante mais da metade de sua vida, o saudoso Manoel Joaquim de Moraes foi figura conhecida pelas ruas de Três Lagoas, vendendo o tradicional sorvete americano. Não chegou a enriquecer com a profissão, mas garantiu o sustento da família e criou com dignidade seus dois filhos. “O que faturava era para comer”, costumava dizer. Com o dinheiro do ofício, conseguiu conquistar apenas uma casa, fruto de muito trabalho e perseverança.
Nos anos 1970, o sorvete americano era novidade na cidade e viveu seu auge, antes de perder espaço para as massas mais modernas que surgiram com o tempo. A receita era simples, mas cheia de sabor e memória afetiva: gelatina, suco, água e açúcar. “A gelatina é que dá liga”, explicava ele, sempre com orgulho do seu produto.
Natural da região de São José do Rio Preto, “Seo” Manoel chegou a Três Lagoas ainda jovem, em busca de oportunidades no comércio. No entanto, foi como sorveteiro que se firmou e marcou gerações. Chegou a ter quatro peruas espalhadas em pontos estratégicos da cidade — como em frente ao Mercadão e na antiga Praça da Bandeira, atual Ramez Tebet. Em uma época em que isso era permitido, contratava garotos para cuidar das peruas, enquanto se dedicava à administração do negócio.
Após sua partida, um dos filhos ainda tentou manter o comércio vivo por algum tempo, mas hoje, as lembranças são tudo o que restam. Mesmo assim, o legado do “Seo” Manoel ainda vive na memória afetiva de quem saboreou seu sorvete e conheceu sua simplicidade e dedicação.
João Maria Vicente
Foto – Arquivo Pessoal